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ETEC de Artes Paula Souza e Parque da Juventude (2022)

O atual Parque da Juventude, que antes abrigou a penitenciária do Carandiru, mantém partes da arquitetura prisional, sendo composta por ruínas de altos corredores usados para vigilância, celas, edifícios da atual escola ETEC de Artes Paula Souza e vestígios por toda a sua extensão. O parque é também composto por esculturas que levam a refletir qual a narrativa que se pretende fixar. Os muitos portões e grades indicam fronteiras entre as instituições que integram este território e indicam limites e divisões. Além das referências materiais, existem também as imateriais, que é parte do público do parque, que por diversas razões habitam este lugar. Parte dela são moradores de albergues masculinos nas redondezas e que ficam no parque pela proximidade das instituições. A presença de moradores de rua e moradores de favelas próximas.

Caminhar é uma ação ancestral não só de deslocamento no espaço, como também, um modo de facilitar o pensamento e a conexão das ideias. Caminhar de modo atento e silencioso no parque, sabendo que aquele já foi o lugar que abrigou a penitenciária do Carandiru, considerando toda a crueldade, injustiça, desigualdade entre muitas outras violações ao ser humano, perceber quem hoje frequenta, como foi edificado o entorno, o bairro, traz para a pele a percepção da rede de forças que agem sobre os lugares, a imposição que executa nos corpos, nos modos de vida, nas fronteiras relacionais, os muros invisíveis que regem as vidas de todas as populações que a habitam, sejam humanas, vegetais, animais, minerais e incluo aqui os resíduos produzidos pelos seres humanos.

O ato de caminhar solitariamente, de caminhar em grupo, de permitir-se atos poéticos compartilhados, experimentações de permanência em lugares proibidos e vigiados que geram saberes vivenciados em cada pessoa. Saberes complexos entremeados de memórias, histórias e emoções pessoais e coletivas. São momentos de ruptura do agir cotidiano, racional, regido pelo tempo-dinheiro que alteram a percepção de quem realiza e pode gerar estranhamento a quem nota. A realização das Intervenções Urbanas neste lugar compuseram as ações no cotidiano local, buscando habitá-lo de modo equânime, amplificando as características do pensamento impresso na arquitetura através da presença do corpo humano no território.

Dançarinas: Ana Kathleen Barros, Dresler Aguilera, Joice Florisbal Borges, Mariana Taques, Michele Carolina, Thais Ueti e Vitória Savini / Registro videográfico: Gideoni Júnior. Foto: Inês Bonduki / Produção: Júnior Cecon.