X

Formação de espectadores e mediação cultural

Ler a Terra – Programa de formação de espectadores por Francis Wilker

Um dos eixos do projeto CORPO BIOMA: danças para desespecular imaginários é a realização do programa de formação de espectadores Ler a Terra, que atenderá 18 turmas, envolvendo cerca de 600 estudantes que terão acesso às peças “Instalação performativa de dança contemporânea Corpo Crustáceo” e “TERRA peça multimídia de dança contemporânea”, sendo 09 sessões para cada obra. A ação tem como público prioritário estudantes do ensino médio de escolas da rede pública de São Paulo. O programa atenderá todas as regiões do município de São Paulo promovendo, desta forma, a capilarização, a descentralização e a garantia de acesso aos bens culturais em todos os territórios equanimemente.

A proposta procura dialogar com a prática do coletivo Ruínas tanto pelos seus modos de criar como também pelos temas, questões e motivações de seus trabalhos. Nesse sentido, as atividades propostas procuram contribuir com a formação estética, sensível e crítica dos estudantes ao promover atividades que possam colaborar para reflexões em duas direções: 1) aspectos composicionais e formais – os processos criativos do coletivo que são marcados pela transdisciplinaridade entre áreas do conhecimento e o enlace das diferentes linguagens artísticas (teatro, dança contemporânea, intervenção, audiovisual); 2) temáticos – o modo como os espetáculos Corpo Crustáceo e Terra podem mobilizar uma reflexão sobre a cidade, a paisagem, em última instância, sobre o planeta Terra e as transformações causadas pela marcha do progresso. Assim, a metáfora da “leitura” procura jogar tanto com o objetivo da mediação teatral em ampliar as possibilidades de percepção e leitura de um trabalho artístico e, para além disso, com a capacidade de leitura do próprio lugar em que vivemos, as escritas das paisagens das quais também somos parte. Assim, os dois espetáculos carregam uma potência de reverberação no contexto escolar que ultrapassa a área específica do ensino de artes, ao oferecer elementos que também interessam, numa perspectiva transdisciplinar e alinhada à BNCC (base nacional curricular comum) à Geografia, à História, à Sociologia etc.

Do ponto de vista metodológico, o programa contemplará três movimentos, inspirados nas pesquisas e proposições dos autores Flávio Desgranges e Glauber Coradesqui:

  • pré-apreciação – que consiste numa oficina com os estudantes denominada Contemplar a Paisagem, em que estudantes serão convidados a realizar um percurso no entorno da escola, como um grupo de viajantes que se encontram pela primeira vez com aquela paisagem. No percurso, serão colocados em prática alguns dispositivos que mobilizam um olhar renovado para o espaço de todos os dias, como a caminhada lenta, a pausa, a contemplação, os micros movimentos, por A ideia é estimular reflexões sobre os elementos que constituem a paisagem, suas percepções das transformações do espaço, histórias do lugar etc. Cada participante produzirá 2 imagens desse encontro com a paisagem e terá um bloquinho de anotações e, ao final da caminhada, fará um relato de viagem. (caso o entorno da escola ofereça algum tipo de risco, a atividade poderá ser adaptada e o percurso será nos diferentes espaços da unidade escolar). Ao final, pretende-se que cada estudante leia e/ou grave seu relato e envie para os mediadores por meio de aplicativos de celular juntamente com suas 2 imagens. Assim, a equipe de mediadores terá um acervo de produções dos estudantes que será utilizado na etapa final do programa.

 

 

  • Apreciação do espetáculo – realização de uma apresentação gratuita de um dos espetáculos do Coletivo Ruínas tendo por público prioritário as e os estudantes que participam do Haverá roda de conversa entre o Coletivo Ruínas, professoras, professores e estudantes mediada pela equipe de formação do projeto.

 

  • Pós-apreciação – reflexão sobre os temas, questões e articulações composicionais do trabalho artístico apreciado. Nessa oportunidade, os/as estudantes, distribuídos em pequenos grupos na sala de aula, serão convidados a propor micro movimentos, experimentar variações de tempo e velocidade em seus deslocamentos enquanto as imagens que produziram do entorno da escola são projetadas na sala e uma trilha com trechos de suas narrativas da caminhada feita na etapa anterior é reproduzida com aparelho de som. Assim, terão a oportunidade de vivenciar o enlace entre corpo, som e imagem nas transformações do espaço escolar e, ao mesmo tempo, elaborar novos sentidos para as imagens, narrativas e movimentos criados por eles próprios. Ao final, é realizado um debate sobre a experiência com o espetáculo e com as atividades de mediação.