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Procedimentos de Aproximação e Permanência (2021)

“Procedimentos de aproximação e permanência” é o nome dado à pesquisa experimental  de dança em espaços urbanos e que tem sido o mote orientador da “Residência Artística Plasticidade Destrutiva e Ecologia”, que integra o projeto “Residência OBScênica”, contemplado pelo 29º edital de Fomento à Dança.

Os procedimentos são os pontos comuns propostos ao corpo coletivo para a realização das Intervenções Urbanas, que acontecem em lugares que sofrem intensos processos de especulação imobiliária e/ou processos de desestatização. Tais ambientes, pelo especial interesse que geram para a economia (local ou internacional), explicitam a força dominante que se impõe sobre o lugar e sobre as pessoas.

Têm como intenção intervir em espaços públicos, privados ou público-privados para revelar as linhas de força imperativas por meio da presença de corpos não utilitários, corpos em sintonia entre si, em experiência de simplesmente estar e se relacionar com a natureza do lugar e do momento. A espetacularidade do cotidiano. No limiar do permitido e do proibido. Qual(is) corpo(s) pode(m) ocupar os lugares? Como o(s) corpo(s) deve(m) estar?

  • Paranapiacaba (2021)

Esta Intervenção Urbana, que aconteceu no primeiro domingo de inverno em que a Vila de Paranapiacaba reabriu ao público, após meses de fechamento devido à pandemia de covid-19, é um desdobramento do processo de imersão realizado entre os meses de junho e julho de 2021, pelo Coletivo Ruínas em parceria com o L.E.I.A., a artista visual Cristina Teles e o guia turístico e educador Eduardo Pin.

Neblina, sol, chuva, garoa, frio, turistas e moradores coabitavam as ruas e lugares da vila. Experimentar presenças próximas em espaços urbanos e coletivos, respeitando distâncias e protocolos de saúde e segurança, conduziu coreograficamente gestos e movimentos.

Ao longo da imersão, foram realizadas caminhadas pelas ruas e vielas da Vila histórica, trilhas ecológicas, visita guiada a locais que sofrem com a especulação imobiliária e interesses público-privados de construção em área de preservação ambiental e nascentes, aula aberta de iniciação à técnica de aquarela, formação teórica “cartografia afetiva – história e patrimônio”, ação performativa na nascente do rio Pinheiros e conversas sobre preservação e patrimônio.

Ficha Técnica:
Dançarinas: Brunieli Ferreira, Juliana Morimoto, Michele Carolina e Thais Ueti.
Registro: Laio Rocha (Inspiração 6).
Produção: Júnior Cecon

 

 

  • Ponte Estaiada – Av. Nações Unidas (2021)

A Ponte Estaiada sobre o rio Pinheiros e a Av. das Nações Unidas são locais impróprios para a presença e mobilidade humana. Territórios projetados para máquinas – a passagem de pedestres da ponte acaba subitamente antes de chegar ao outro lado. Calçadas interrompidas, mal conservadas, vias de pedestres vazias, concreto, arranha-céus de vidros, avenidas, fumaça, trânsito de carros, vigilância, pressa, corpo funcional, cidade fantasma, cidade pra quem?

“A ponte foi criada como chamariz para o mercado imobiliário, por seu caráter espetacular. Afinal, não precisaria daquela estrutura toda para a transposição do rio tão estreito. É para criar uma marca de distinção, inventar uma centralidade para o empresariado. Por isso, era importante para a prefeitura e as empresas tirar a favela dali.” Mariana Fix.

Ficha técnica:
Dançarinas: Brunieli Ferreira, Cari Ela, Danna, Juliana Morimoto, Lilian Wiziack, Mariana Taques, Michele Carolina, Nicoly Augustinho, Tara Oliveira Minozzi, Thais Ueti e Vitória Savini
Registro: Victor Paris (Inspiração 6)
Produção: Júnior Cecon

 

 

 

 

 

 

  • Vale do Anhangabaú (2021)

Cercado por grades e protegido por policiais, o Vale do Anhangabaú – que sempre foi palco de manifestações – torna-se um espaço urbano quase inacessível e desértico. Milhões de reais foram gastos em uma reforma entre os anos de 2020 e 2021, para entregar o Vale a uma concessão privada com o discurso de ativação esportiva, cultural e recreativa. O que vemos é um lugar despovoado, vigiado ostensivamente e que, sequer, leva em consideração a população de rua que também o ocupa, como se a questão não existisse.

Ficha técnica:
Dançarinas: Cari Ela, Danna, Juliana Morimoto, Lilian Wiziack, Mariana Taques, Michele Carolina, Nicoly Augustinho, Thais Ueti e Vitória Savini
Registro videográfico: Gideoni Junior
Registro fotográfico: Inês Bonduki
Produção: Júnior Cecon e Iolanda Sinatra

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  • Tekoá Itakupé – Jaraguá (2021)

Intervenção Urbana e processo de imersão realizado no mês de dezembro de 2021, pelo Coletivo Ruínas junto às indígenas de etnia Guarani Mbya, Daniel Wera e o educador e criador de lagos Adriano Sampaio, no Tekoá Itakupé, zona oeste da cidade de São Paulo.

Caminhar é o eixo condutor dos processos desta pesquisa. As caminhadas são parte central da cultura Guarani e do modo como usam e se relacionam com  o território e tivemos a felicidade de realizar trocas de experiências sobre o caminhar, ouvir histórias da cosmologia e resistência indígena e somar na disseminação da importância que temos no apoio à preservação dos territórios e cultura deste modo de vida. Participamos do mutirão para criação do lago e realizamos um encontro teórico sobre saúde indígena e território, com os Xiamoi Pedro Karaí Yapuá e Manuel Lima.

Ficha Técnica:
Dançarinas: Cari Ela, Danna, Juliana Morimoto, Lilian Wiziack, Mariana Taques, Michele Carolina, Nicoly Augustinho, Tara Oliveira Minozzi, Thais Ueti e Vitória Savini
Registro videográfico: Gideoni Júnior e Rafael Frazão
Foto: Inês Bonduki
Produção: Júnior Cecon e Iolanda Sinatra.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  • Vila Madalena (2022)

No dia 25 de fevereiro de 2022 a Intervenção Urbana começou no CRDSP nos baixos do Viaduto do Chá e aconteceu nos arredores do metrô Vila Madalena, zona oeste de São Paulo. Esta região é um dos lugares onde a especulação imobiliária está agindo de modo intensivo, destruindo quarteirões de casas para construção de edifícios residenciais ou mistos com altíssimos valores por metro², alterando profundamente as relações sociais, econômicas e políticas da região, bem como criando muito transtorno no cotidiano urbano.

Dançarinas: Ana Kathleen Barros, Dresler Aguilera, Joice Florisbal Borges, Lilian Wiziack, Mariana Taques, Michele Carolina, Thais Ueti e Vitória Savini / Registro videográfico: Gideoni Júnior. Foto: Inês Bonduki / Produção: Júnior Cecon

  • ETEC de Artes Paula Souza e Parque da Juventude (2022)

O atual Parque da Juventude, que antes abrigou a penitenciária do Carandiru, mantém partes da arquitetura prisional, sendo composta por ruínas de altos corredores usados para vigilância, celas, edifícios da atual escola ETEC de Artes Paula Souza e vestígios por toda a sua extensão. O parque é também composto por esculturas que levam a refletir qual a narrativa que se pretende fixar. Os muitos portões e grades indicam fronteiras entre as instituições que integram este território e indicam limites e divisões. Além das referências materiais, existem também as imateriais, que é parte do público do parque, que por diversas razões habitam este lugar. Parte dela são moradores de albergues masculinos nas redondezas e que ficam no parque pela proximidade das instituições. A presença de moradores de rua e moradores de favelas próximas.

Caminhar é uma ação ancestral não só de deslocamento no espaço, como também, um modo de facilitar o pensamento e a conexão das ideias. Caminhar de modo atento e silencioso no parque, sabendo que aquele já foi o lugar que abrigou a penitenciária do Carandiru, considerando toda a crueldade, injustiça, desigualdade entre muitas outras violações ao ser humano, perceber quem hoje frequenta, como foi edificado o entorno, o bairro, traz para a pele a percepção da rede de forças que agem sobre os lugares, a imposição que executa nos corpos, nos modos de vida, nas fronteiras relacionais, os muros invisíveis que regem as vidas de todas as populações que a habitam, sejam humanas, vegetais, animais, minerais e incluo aqui os resíduos produzidos pelos seres humanos.

O ato de caminhar solitariamente, de caminhar em grupo, de permitir-se atos poéticos compartilhados, experimentações de permanência em lugares proibidos e vigiados que geram saberes vivenciados em cada pessoa. Saberes complexos entremeados de memórias, histórias e emoções pessoais e coletivas. São momentos de ruptura do agir cotidiano, racional, regido pelo tempo-dinheiro que alteram a percepção de quem realiza e pode gerar estranhamento a quem nota. A realização das Intervenções Urbanas neste lugar compuseram as ações no cotidiano local, buscando habitá-lo de modo equânime, amplificando as características do pensamento impresso na arquitetura através da presença do corpo humano no território.

Dançarinas: Ana Kathleen Barros, Dresler Aguilera, Joice Florisbal Borges, Mariana Taques, Michele Carolina, Thais Ueti e Vitória Savini / Registro videográfico: Gideoni Júnior. Foto: Inês Bonduki / Produção: Júnior Cecon.

  • Ilha do Bororé (2022)

Intervenção Urbana iniciada na periferia do bairro Grajaú, área de alta densidade de edificações e população. Calçadas estreitas, vielas, cavalos e galinhas dividem espaço com as pessoas nas vias. Pouca presença de vegetação. Sol extenuante durante a caminhada silenciosa e acelerada do corpo-cardume. O surgimento de árvores, a ampliação das ruas e calçadas, o aparecimento do horizonte e do rio indicam mudanças habitacionais, alterações nas relações entre o corpo e o ambiente. O que é preciso ativar em nós para expressar os afetos que nos atravessam ao longo da caminhada? Como se permitir atravessar pelo ambiente? Considerando a existência de sentimentos como o medo e a vulnerabilidade.

Como a sensação se altera com a presença da água aparentemente limpa no rio e da represa, pescadores adultos e crianças nas bordas, cruzar a balsa para se chegar à Ilha, o vilarejo, as histórias narradas em suas paredes, a vegetação indicando limites de áreas habitadas e áreas de preservação. O estranhamento em estar em uma São Paulo não familiar, uma São Paulo ainda parcialmente preservada. Tivemos ainda o prazer de conhecer parte da equipe que mantém a casa Ecoativa, de ouvir sobre a cultura local e de saborear um delicioso almoço com escondidinho de coração de bananeira preparado pela Lu.

Dançarinas: Ana Kathleen Barros, Mariana Taques, Michele Carolina, Thais Ueti e Vitória Savini / Registro videográfico: Gideoni Júnior. Foto: Inês Bonduki / Produção: Júnior Cecon.